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Um pequeno livro enorme

Um pequeno livro enorme

Autores - Segunda-feira, 01 de Fevereiro de 2016 - Por: Nei Lopes

Na sofisticada e complexa concepção africana do Universo, existe e atua uma Força quase sempre mal compreendida, exatamente pela sua complexidade. Falo (isso mesmo!) de Exu ou Elegbara, orixá ou “eborá” da tradição jeje-iorubana, do qual o segundo nome mencionado significa o “dono da força”. Ele é a síntese do princípio dinâmico que rege o Universo e possibilita a Existência, sendo, também, com diversos outros títulos ou denominações, a mais polêmica dentre as forças invisíveis que regem as concepções filosóficas tradicionais na África e nas Américas.

Dono da força, Exu-Elegbara é também o dono da dialética. E este termo, como sabemos, designa todo processo de diálogo, ou troca de idéias diferentes, no qual as contradições aparentes entre duas afirmações são harmonizadas pela elaboração de uma síntese que contém elementos de ambas.
“Caranguejo não é peixe; caranguejo peixe é”, diz a cantiga de roda, para no final concluir: “Caranguejo só é peixe na enchente da maré”. Isso é dialética.

Mas esta conversa aparentemente “fiada” tem por objeto anunciar a publicação de um livro exemplar, neste momento em que se profanam imagens de santos católicos e se apedrejam fieis e terreiros de culto a orixás. Trata-se de “Exu, o guardião da casa do futuro” (Pallas Editora, 20l5), de Vagner Gonçalves da Silva.

Em formato de bolso e com  229 páginas que se lêem de uma tacada só, é obra de um doutor em antropologia e professor  da pós-graduação da USP que certamente é pessoa “de dentro”. Por  isso, criou um livro para calar a boca dessa teologia de “araque”, difundida a partir de núcleos que, segundo o escritor antilhano V.S. Naipaul, Prêmio Nobel de Literatura em 2001, são conhecidos na África como “igrejas rock and roll”.

“O que causa estranhamento é o fato de que os demônios nessas igrejas se apresentam sempre como entidades das religiões afro-brasileiras”, diz o livro. E isto quando se sabe de  representações demoníacas abundantes em ambientes de cultura anglo-saxônica, céltica, nórdica,  por exemplo. É só ligar a televisão e ver a  profusão de vampiros, bruxas, duendes, elfos etc., etc., etc.

Mas antes de ligar, vamos ler este livro imperdível. Laroiê!

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