Abrindo as comemorações dos 50 anos da Pallas

Lançamentos dos livros BRASIL ATLÂNTICO e MEU CASO DE AMOR COM O BRASIL

Dentro das comemorações pelos seus 50 anos, a Pallas Editora leva às prateleiras uma seleção de artigos de periódicos, capítulos de coletâneas e trechos de livros que tratam de assuntos diversos e foram publicados ao longo de meio século.

Brasil Africano: orixás, sacerdotes, seguidores”, do sociólogo, professor e escritor Reginaldo Prandi, é um farto volume de 408 páginas acomodadas em 16 capítulos, que contempla as religiões afro-brasileiras, abordando deuses, rituais e transformações que acompanharam a sociedade nesse período.

“O livro analisa o candomblé e a umbanda, seus sacerdotes e seguidores, desvendando dinâmicas de poder, orientação da conduta e resistência. Fala do panteão e ritos a ele dedicados. Reflete sobre a intolerância religiosa, a incorporação da tradição dos orixás na sociedade e na cultura contemporânea”, explica o autor, 78 anos, 52 deles vivido entre pesquisas e manuscritos. Prandi é uma autoridade no assunto, com mais de 30 títulos publicados sobre temas como literatura infantojuvenil, educação, metodologia de pesquisa e religião – este último, o assunto pelo qual é mais conhecido.

A obra oferece “um panorama crítico e detalhado do papel dessas religiões na construção da identidade brasileira. É a história de uma tradição de origem africana decisiva para o Brasil, mas mesmo assim frequentemente vilipendiada e perseguida. Os textos deste livro têm como objeto preferencial o candomblé, embora alguns capítulos tratem também da umbanda”, pontua o autor. Desde os anos 1970, ele acompanha e interpreta essas manifestações do ponto de vista sociológico, com destaque para o candomblé e a umbanda.

Reginaldo Prandi diz que os estudos sociológicos sobre religião se alastraram pelo país com a popularidade dos cursos de pós-graduação. Ele iniciou a carreira em 1971, quando havia apenas três programas de pós em sociologia, todos incipientes. Hoje são mais de cinquenta. “As religiões afro-brasileiras, além de se preocuparem com o indivíduo, seguem como exuberante celeiro cultural. São capazes de fornecer ingredientes materiais e simbólicos para o amálgama que preenche muitas fissuras culturais e cria novas fisionomias e enervações que dão forma e sentido à identidade dos brasileiros”, frisa.

Os textos foram escolhidos pelo sociólogo, professor e escritor João Luiz Carneiro. “Orixás, voduns, inquices, caboclos, pretos velhos, pombagiras e exus, além de outras entidades, povoam os capítulos e desnudam diferentes faces da sociedade brasileira, mostrando, atrás das religiões, uma África viva e constitutiva do que é o Brasil”, afirma Carneiro. Como pano de fundo, estão as “mudanças sociais pelas quais passou o Brasil neste meio século, refletidas, como não podia deixar de ser, nas próprias religiões estudadas”, ensina Carneiro.

O livro chegou a ser impresso por uma pequena editora, em janeiro de 2022. Porém, a casa editorial fechou as portas antes de dar tempo de fazer qualquer movimento pela obra. E a Pallas logo se interessou em colocar essa obra ao alcance do público. Reginaldo Prandi possui uma estreita relação com as editoras Cristina e Mariana Warth e já publicou outros quatro livros pela casa editorial carioca – “Os príncipes do destino” (2022), com ilustrações premiadas de Anna Cunha, e “Ogum” (pela Coleção Orixás, 2019) como autor mais “Encantaria brasileira” e “Caminhos de Odu” (ambos de 2006) como organizador.

“Este livro é o resumo da experiência mais marcante da minha vida. Tem de tudo: o entusiasmo do primeiro contato com pessoas extraordinárias, a literatura de Jorge Amado, a baianização do Brasil, a beleza e o sorriso do Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, o frio e o concreto de São Paulo, a memória da ditadura, a fome de democracia”

Meu caso de amor com o Brasil“, do jornalista e italiano Bruno Barba

O título já entrega o que você vai encontrar na primeira obra publicada no país do jornalista, antropólogo e professor italiano Bruno Barba: “Meu caso de amor com o Brasil”, lançado pela Pallas Editora. “Este livro é o resumo da experiência mais marcante da minha vida. Tem de tudo: o entusiasmo do primeiro contato com pessoas extraordinárias, a literatura de Jorge Amado, a baianização do Brasil, a beleza e o sorriso do Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, o frio e o concreto de São Paulo, a memória da ditadura, a fome de democracia”, enumera o autor, por telefone.

Tudo começou em julho de 1990, quando Barba, então aluno da Universidade de Gênova, chegou em São Paulo atrás de algo que rendesse uma pesquisa para o seu trabalho de conclusão em antropologia. “Mais do que um objeto de pesquisa, encontrou um país”, assinala Reginaldo Prandi, no prefácio do livro, lançado originalmente na Itália em 2023. O livro foi traduzido por Adriana Marcolini e traz na capa uma pintura da artista carioca Wanda Pimentel (1943-2019).

Desde aquela viagem, Bruno veio ao Brasil quase todo ano, conhecendo capitais e cidades do interior e do litoral, cada lugar interessante, do mar à floresta, dos sertões aos grandes rios. Encontrou os parentes italianos em São Paulo, na capital e no interior, e também na Bahia. Fez amigos em todos os lugares”, afirma Prandi, que costuma recebê-lo em sua casa, na Vila Mariana, e é hospedado por ele na Itália.

“O Brasil, para mim, é antes de tudo São Paulo. O movimento incansável e incessante, os milhões de passos simultâneos, o trânsito, o ar de fumaça e chuva. As pessoas, o jeito, o seu coração imenso, o candomblé inesperado de São Paulo. A possibilidade de entrar e sair dessa megalópole: atravessar e explorar dentro e fora, o alternar dos olhares de perto e de longe. A várzea e os arranha-céus, os terreiros remotos e a Avenida Paulista, a minha volta pra casa”, escreve Bruno Barba, no prólogo.

Um grande divulgador da cultura brasileira na Itália, autor de muitos livros – a maioria sobre a cultura, as religiões afro-brasileiras, a música, o futebol, o racismo, a imigração e as cidades tão diversas da nossa pátria -, Barba reúne, neste livro, duas visões de Brasil: a apaixonada e a crítica, sempre sob a perspectiva antropológica. Afinal, ele registrou e analisou as mudanças significativas que ocorreram por aqui nas últimas três décadas. Usando as palavras certeiras de Reginaldo Prandi: “Ao longo dos anos, Bruno Barba se tornou um grande especialista em Brasil”.


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