Duas irmãs, duas encruzilhadas: Antonia e Nereci, prisão e liberdade, Exu e Odoyá, caos e paz. Semelhantes? “antonia tranca o maxilar. nereci quer saber se a cobertura é de brigadeiro.” Do abandono parental às diferenças em suas vivências, elas tentam buscar a salvação em uma Salvador outra, quase irreal.Nereci, de acordo com uma personagem, é o orgulho da avó: “Não pegou barriga, não entrou pro corre. É a menina mais direita dessa comunidade aqui. Mudou de vida, de cidade!” Ela é o contrário da sua irmã presa: “talvez o corre, mas antonia foi parecendo envelhecer. desgastar”. A “calma aguda” de uma é a “cicatriz da retirada das mamas brilhando sob a iluminação quente” da outra. Mesmo assim, complementos de uma mesma história sobre vidas negras, vagando entre passado, presente e futuro, em movimento.Com uma linguagem sem concessões e que entende a literatura como um mar de possibilidades, tatiana nascimento cria em água de maré um petardo político para qualquer leitor que deseja ser desafiado e abrilhantado. Uma autoria que recusa o que dizem que nós pessoas negras devemos escrever. E como devemos escrever. Aqui, estamos alertas e cientes do artifício. Nascimento articula a sua vontade na palavra e faz dela ataque e resistência.Bruno Ribeiro(texto de orelha)
